Dr. Carlos Regoto Neurologia no Rio de Janeiro

A demência é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, alterando a capacidade de pensamento, memória e comportamento de forma significativa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, cerca de 50 milhões de pessoas vivem com demência, e este número deve triplicar até 2050 (Organização Mundial da Saúde, 2021). Reconhecer os sinais precoces e buscar ajuda médica é essencial para uma melhor qualidade de vida.

O que é Demência?

Demência não é uma doença específica, mas um termo genérico que descreve um conjunto de sintomas que afetam a memória, o pensamento e as habilidades sociais. As formas mais comuns de demência incluem a Doença de Alzheimer, demência vascular e demência com corpos de Lewy. Enquanto a Doença de Alzheimer é a forma mais prevalente, representando cerca de 60-70% dos casos, cada tipo de demência pode apresentar sintomas e progressões diferentes (Alzheimer’s Association, 2022).

Existem outros tipos, como a demência vascular, que é causada por doença cérebro e cardiovascular levando a múltiplos AVCs, e isso levando aos problemas cognitivos somados.

Existe a demência mista, ou seja, duas ou mais causas de demência juntas levando aos sintomas. Neste caso, o mais frequente são os dois tipos principais de demência: a do tipo Alzheimer somada à vascular.

Sintomas e Sinais de Alerta!!!

Podem variar bastante, mas uma coisa é certa: Quase sempre os sintomas aparecem de leve, e progridem lentamente, isso nas demências ditas degenerativas, as mais frequentes.

Os sintomas mais frequentes estão descritos a seguir, dependendo da “esfera” acometida.

Alterações de memória, como:

  • Dificuldade / perda de memória, mais comumente a memória recente
  • Dificuldade em realizar atividades mais complexas, em planejar, se organizar
  • Dificuldade de coordenação
  • Dificuldade em se localizar, a pessoa pode se perder no seu bairro, sua cidade
  • Dificuldade em reconhecer pessoas, familiares, ou achar nomes das coisas

Alterações de comportamento ou psicológicas, como:

  • Mudança de personalidade
  • Apatia, incapacidade de reagir às situações
  • Sintomas de confusão mental, paranóia, alucinações, até mesmo agressividade

Reconhecer esses sinais precocemente é crucial, pois o tratamento e a intervenção em estágios iniciais podem ajudar a retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

A Importância do Diagnóstico Precoce

Um diagnóstico precoce pode abrir portas para uma série de opções de tratamento e suporte. Estudos indicam que intervenções precoces, que incluem terapia cognitiva, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, medicamentos, podem ajudar a gerenciar os sintomas e prolongar a autonomia do paciente. Além disso, um diagnóstico adequado pode aliviar a ansiedade e a incerteza tanto para o paciente quanto para a família.

Fatores de Risco

Sempre todo mundo quer saber: o que posso fazer para me prevenir? Existem fatores de risco que não podemos mudar, como a genética ou idade mais e mais avançada; e existem aquelas coisas onde podemos atuar, intervir.

Embora a idade seja o principal fator de risco para a demência, outros fatores também desempenham um papel importante.

– Genética: histórico familiar de demência.

– Condições médicas: hipertensão, diabetes e colesterol alto.

– Estilo de vida: sedentarismo, dieta inadequada e tabagismo.

Fatores de risco modificáveis – Coisas que podemos fazer, para tentar prevenir demências:

  • Uso de álcool em excesso, drogas, e tabagismo. Evitar, óbvio.
  • Aterosclerose. Pessoas com carga de doença aterosclerótica podem ter micro-pequenos derrames ou isquemias, que em anos e anos de evolução, podem causar demência vascular.
  • Pressão alta. Tratar adequadamente níveis de pressão mais alta comprovadamente previnem a demência, sobretudo nos tipos vascular e sintomas do Alzheimer.
  • Colesterol e diabetes. Tratar adequadamente problemas de colesterol e triglicérides, e o diabetes, comprovadamente previnem a demência, sobretudo no tipo vascular.
  • Depressão. Ter doenças psiquiátricas, e não tratar depressão, está relacionada a maior frequência de demências.
  • Atividade física, social e intelectual. Sabe-se que manter-se ativo, trabalhando, fazer leituras, sair, conversar, socializar, praticar atividade física, são coisas que comprovadamente beneficiam o cérebro, e podem ajudar a prevenir o surgimento de problemas de memória e demência.

Adotar um estilo de vida saudável pode reduzir o risco de demência. A American Heart Association destaca a importância de manter-se ativo, ter uma alimentação equilibrada e controlar a saúde cardiovascular como estratégias eficazes de prevenção (American Heart Association, 2020).

Quando suspeitar?

Se houver algum sintoma dos acima, que você está percebendo em algum amigo ou familiar próximo, é prudente levar a pessoa para consultar-se com neurologista clínico. Lembrete, é raro a própria pessoa perceber a sua alteração. Na maioria das vezes, é a família, ou próximos, que percebem que a pessoa não está bem das ideias…

Dependendo da causa, alguns tipos de demência podem ser tratados e seus sintomas revertidos; a demência de causa vascular, por exemplo, pode ser estacionada, e conseguimos que ela não progrida, piore.

Tipos de demência

Existe a demência mista, ou seja, duas ou mais causas de demência juntas levando aos sintomas. Neste caso, o mais frequente atualmente são os dois tipos principais de demência: a do tipo Alzheimer somada à vascular.

Demências progressivas. Aparecem lentamente e progridem, pois não há tratamento curativo para estes tipos, até os dias de hoje:

    • Demência por Doença de Lewy. Este tipo ocorre em cerca de 10% das demências. É mais raro. É progressivo, e costuma vir com sintomas de demência alternando com dias, períodos em que a pessoa fica mais lúcida. Muito frequentemente a pessoa tem sintomas de tremores e rigidez, semelhante ao Parkinson.
    • Demência Frontotemporal. Costuma aparecer em uma faixa de idade um pouco mais jovem do que nos casos de Alzheimer, entre 50 e 70 anos. Os sintomas predominantes são alterações de personalidade, comportamento e linguagem, exatamente as funções predominantes dos lobos frontal e temporal no cérebro.
    • Demência pela Doença de Parkinson. Uma parcela das pessoas que tem Parkinson podem desenvolver em fases mais avançadas, sintomas de demência, condição chamada de Demência relacionada à doença de Parkinson.

    Demências potencialmente  tratáveis, ou que podem estacionar. São os tipos de demência onde você pode conseguir uma estabilização dos sintomas, e algumas vezes até mesmo a reversão e cura.

      O Papel do Neurologista

      Se você ou um ente querido apresenta sinais de demência, é essencial consultar um neurologista. Esses especialistas são fundamentais para a avaliação, diagnóstico e desenvolvimento de um plano de tratamento personalizado. Eles podem ajudar a diferenciar entre demência e outras condições que podem causar sintomas semelhantes, como depressão e delirium.

      Tratamento

      Nos casos com causa que pode ser tratável, tem que tratar a causa.

      Entretanto, a maioria das demências, aquelas degenerativas, infelizmente, não tem cura. Mas o neurologista e profissionais de saúde, como fisios, fonos, TOs, neuropsicólogos, podemos ajudar os pacientes e famílias.

      • Inibidores de colinesterase. Exemplos são a donepezila, a rivastigmina e a galantamina. Podem retardar o avançar dos sintomas em algumas demências degenerativas, e melhorar sintomas.
      • Memantina. Outra classe de remédios que tem efeitos parecidos com os inibidores de colinesterase.
      • Medicações para agitação, sono e confusão mental. Os mais comuns são os neurolépticos, como risperidona, quetiapina, olanzapina, entre outros. Ajudam o paciente a ficar mais calmo, e ajuda os cuidadores a conseguir cuidar melhor dos pacientes. Podem ser usados também indutores de sono.
      • Terapias. Fisio, fono, TO, reabilitação cognitiva, são alguns exemplos.

      Conclusão

      A demência é uma condição complexa, mas o conhecimento e a ação precoce podem fazer toda a diferença. Não hesite em buscar ajuda médica ao notar sinais de alerta. Agende uma consulta com um neurologista para discutir suas preocupações e explorar opções de cuidado e suporte.

      Referências

      – Organização Mundial da Saúde. (2021). Dementia. Recuperado de https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia (https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia)

      – Alzheimer’s Association. (2022). 2022 Alzheimer’s Disease Facts and Figures. Alzheimer’s & Dementia, 18(4), 700-789. doi:10.1002/alz.12638

      – Petersen, R. C., et al. (2019). Mild Cognitive Impairment: Clinical Characterization and Outcome. Archives of Neurology, 56(3), 303-308. doi:10.1001/archneur.56.3.303

      – Jansen, W. J., et al. (2019). Prevalence of Cerebral Amyloid Pathology in Individuals Without Dementia: A Meta-Analysis. Alzheimer’s & Dementia, 15(1), 134-140. doi:10.1016/j.jalz.2018.07.001

      – American Heart Association. (2020). Life’s Simple 7: How to Improve Your Heart Health. Recuperado de https://www.heart.org/en/healthy-living/healthy-lifestyle (https://www.heart.org/en/healthy-living/healthy-lifestyle)

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