A demência é uma condição que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, alterando a capacidade de pensamento, memória e comportamento de forma significativa. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), atualmente, cerca de 50 milhões de pessoas vivem com demência, e este número deve triplicar até 2050 (Organização Mundial da Saúde, 2021). Reconhecer os sinais precoces e buscar ajuda médica é essencial para uma melhor qualidade de vida.

O que é Demência?
Demência não é uma doença específica, mas um termo genérico que descreve um conjunto de sintomas que afetam a memória, o pensamento e as habilidades sociais. As formas mais comuns de demência incluem a Doença de Alzheimer, demência vascular e demência com corpos de Lewy. Enquanto a Doença de Alzheimer é a forma mais prevalente, representando cerca de 60-70% dos casos, cada tipo de demência pode apresentar sintomas e progressões diferentes (Alzheimer’s Association, 2022).
Existem outros tipos, como a demência vascular, que é causada por doença cérebro e cardiovascular levando a múltiplos AVCs, e isso levando aos problemas cognitivos somados.
Existe a demência mista, ou seja, duas ou mais causas de demência juntas levando aos sintomas. Neste caso, o mais frequente são os dois tipos principais de demência: a do tipo Alzheimer somada à vascular.
Sintomas e Sinais de Alerta!!!
Podem variar bastante, mas uma coisa é certa: Quase sempre os sintomas aparecem de leve, e progridem lentamente, isso nas demências ditas degenerativas, as mais frequentes.
Os sintomas mais frequentes estão descritos a seguir, dependendo da “esfera” acometida.
Alterações de memória, como:
- Dificuldade / perda de memória, mais comumente a memória recente
- Dificuldade em realizar atividades mais complexas, em planejar, se organizar
- Dificuldade de coordenação
- Dificuldade em se localizar, a pessoa pode se perder no seu bairro, sua cidade
- Dificuldade em reconhecer pessoas, familiares, ou achar nomes das coisas
Alterações de comportamento ou psicológicas, como:
- Mudança de personalidade
- Apatia, incapacidade de reagir às situações
- Sintomas de confusão mental, paranóia, alucinações, até mesmo agressividade
Reconhecer esses sinais precocemente é crucial, pois o tratamento e a intervenção em estágios iniciais podem ajudar a retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
A Importância do Diagnóstico Precoce
Um diagnóstico precoce pode abrir portas para uma série de opções de tratamento e suporte. Estudos indicam que intervenções precoces, que incluem terapia cognitiva, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, medicamentos, podem ajudar a gerenciar os sintomas e prolongar a autonomia do paciente. Além disso, um diagnóstico adequado pode aliviar a ansiedade e a incerteza tanto para o paciente quanto para a família.
Fatores de Risco
Sempre todo mundo quer saber: o que posso fazer para me prevenir? Existem fatores de risco que não podemos mudar, como a genética ou idade mais e mais avançada; e existem aquelas coisas onde podemos atuar, intervir.
Embora a idade seja o principal fator de risco para a demência, outros fatores também desempenham um papel importante.
– Genética: histórico familiar de demência.
– Condições médicas: hipertensão, diabetes e colesterol alto.
– Estilo de vida: sedentarismo, dieta inadequada e tabagismo.
Fatores de risco modificáveis – Coisas que podemos fazer, para tentar prevenir demências:

- Uso de álcool em excesso, drogas, e tabagismo. Evitar, óbvio.
- Aterosclerose. Pessoas com carga de doença aterosclerótica podem ter micro-pequenos derrames ou isquemias, que em anos e anos de evolução, podem causar demência vascular.
- Pressão alta. Tratar adequadamente níveis de pressão mais alta comprovadamente previnem a demência, sobretudo nos tipos vascular e sintomas do Alzheimer.
- Colesterol e diabetes. Tratar adequadamente problemas de colesterol e triglicérides, e o diabetes, comprovadamente previnem a demência, sobretudo no tipo vascular.
- Depressão. Ter doenças psiquiátricas, e não tratar depressão, está relacionada a maior frequência de demências.
- Atividade física, social e intelectual. Sabe-se que manter-se ativo, trabalhando, fazer leituras, sair, conversar, socializar, praticar atividade física, são coisas que comprovadamente beneficiam o cérebro, e podem ajudar a prevenir o surgimento de problemas de memória e demência.
Adotar um estilo de vida saudável pode reduzir o risco de demência. A American Heart Association destaca a importância de manter-se ativo, ter uma alimentação equilibrada e controlar a saúde cardiovascular como estratégias eficazes de prevenção (American Heart Association, 2020).
Quando suspeitar?
Se houver algum sintoma dos acima, que você está percebendo em algum amigo ou familiar próximo, é prudente levar a pessoa para consultar-se com neurologista clínico. Lembrete, é raro a própria pessoa perceber a sua alteração. Na maioria das vezes, é a família, ou próximos, que percebem que a pessoa não está bem das ideias…
Dependendo da causa, alguns tipos de demência podem ser tratados e seus sintomas revertidos; a demência de causa vascular, por exemplo, pode ser estacionada, e conseguimos que ela não progrida, piore.
Em relação às demências degenerativas, como as secundárias, o Alzheimer, frontotemporal (DFT) ou por corpos de Lewy, mesmo sabendo que não há até hoje um tratamento curativo, com o uso de medicamentos e orientações, podemos melhorar muito a vida dos pacientes e seus cuidadores / familiares. Além disso, sabendo que estes tipos progridem inexoravelmente, é muito importante saber qual o tipo de demência da pessoa, para a família poder se planejar para o futuro.
Tipos de demência

A principal causa de demência atualmente é o tipo devido à Doença de Alzheimer. Esta é uma demência chamada degenerativa, pois aparece por causa da destruição das células do cérebro (deposição de amilóide), e vai piorando com o tempo. É um tipo progressivo.
Existem outros tipos, como a demência vascular, que é causada por doença cerebrovascular levando a múltiplos AVCs – Acidente Vascular Cerebral, e isso levando aos problemas cognitivos somados. E à demência.
Existe a demência mista, ou seja, duas ou mais causas de demência juntas levando aos sintomas. Neste caso, o mais frequente atualmente são os dois tipos principais de demência: a do tipo Alzheimer somada à vascular.
Demências progressivas. Aparecem lentamente e progridem, pois não há tratamento curativo para estes tipos, até os dias de hoje:
- Demência por Doença de Alzheimer. É a causa mais comum de demência. Geralmente aparece em pessoas após os 60 anos. Casos em mais jovens associam-se a problemas genéticos. A causa já está bem conhecida, e decorre de deposição de uma proteína chamada beta-amilóide nos neurônios, que causam a disfunção destas células, e consequentemente os sintomas de demência. Não há tratamento curativo até hoje. Apenas condutas e remédios que minimizam e retardam o surgimento dos sintomas.
- Demência por Doença de Lewy. Este tipo ocorre em cerca de 10% das demências. É mais raro. É progressivo, e costuma vir com sintomas de demência alternando com dias, períodos em que a pessoa fica mais lúcida. Muito frequentemente a pessoa tem sintomas de tremores e rigidez, semelhante ao Parkinson.
- Demência Frontotemporal. Costuma aparecer em uma faixa de idade um pouco mais jovem do que nos casos de Alzheimer, entre 50 e 70 anos. Os sintomas predominantes são alterações de personalidade, comportamento e linguagem, exatamente as funções predominantes dos lobos frontal e temporal no cérebro.
- Demência pela Doença de Parkinson. Uma parcela das pessoas que tem Parkinson podem desenvolver em fases mais avançadas, sintomas de demência, condição chamada de Demência relacionada à doença de Parkinson.
Demências potencialmente tratáveis, ou que podem estacionar. São os tipos de demência onde você pode conseguir uma estabilização dos sintomas, e algumas vezes até mesmo a reversão e cura.
- Demência vascular. O segundo tipo mais frequente de demência, que pode avançar e progredir se a pessoa tiper Alzheimer junto, ou pode estacionar se forem tratadas as causas dos AVCs, e a pessoa parar de ter AVC. Muito comumente, esta demência pode vir junto com o Alzheimer. A causa mais frequente deste tipo é ocorrer um AVC em uma área “nobre” do cérebro, como área da memória ou de função executiva superior; outra causa frequente são múltiplos AVCs na pessoa que não se cuida adequadamente.
- Demência devido a doenças imunológicas, metabólicas ou infecciosas. Doenças como meningites, encefalites, lupus eritematoso, hipotireoidismo, esclerose múltipla e borreliose (presente nos EUA) são exemplos que podem levar à demência. Uma vez tratadas as condições, os sintomas podem reverter ou pelo menos estacionar.
- Demência por problemas nutricionais. Pessoas alcoólatras, que comem mal, ou pessoas com deficiência de vitamina B12 e B1, podem desenvolver sintomas de demência, e estes sintomas podem reverter se houver reposição adequada da vitamina em falta.
- Demência por Hematomas subdurais. A pessoa é mais idosa, bate a cabeça em algum lugar ou quando tem uma queda, e meses depois ocorre um sangramento no espaço entre o osso e o cérebro. Este é um exemplo típico de hematoma subdural, que pode dar sintomas iguais à demência de outras causas. Drenando, operando o hematoma, se consegue reverter os sintomas.
- Demência por Hidrocefalia de pressão normal (HPN). Este tipo de demência é potencialmente tratado com cirurgia, colocando-se uma válvula na cabeça. É importante fazer a tomografia e ressonância, porque uma vez suspeitada, a indicação da válvula pode estacionar e até melhorar os sintomas de demência.
- Demência por traumatismos cranianos. Às vezes, um jovem ou mais idoso sobre um trauma craniano muito sério, e pode, depois de recuperar-se, ficar com problemas de memória e problemas executivos / cognitivos. Isso não é tão infrequente. Pelo menos, nestes casos, os pacientes costumam não evoluir, e até mesmo melhorar com terapias cognitivas.
- Demência por depressão. Sim. É sério. Depressão pura e simples, principalmente em idosos, pode causas, amigos, pode dar sintomas iguais, iguaizinhos à demência por Alzheimer, por exemplo. Por isso é muito importante saber deste tipo de causa, e tentar associar o começo dos sintomas, se houve algum fator externo, perda familiar, financeira, estresse, preocupação da pessoa acometida. E muitas vezes costuma-se até mesmo optar-se por tratar uma possível depressão, como um teste para ver se esta pode ser a causa.

O Papel do Neurologista
Se você ou um ente querido apresenta sinais de demência, é essencial consultar um neurologista. Esses especialistas são fundamentais para a avaliação, diagnóstico e desenvolvimento de um plano de tratamento personalizado. Eles podem ajudar a diferenciar entre demência e outras condições que podem causar sintomas semelhantes, como depressão e delirium.

Tratamento
Nos casos com causa que pode ser tratável, tem que tratar a causa.
Entretanto, a maioria das demências, aquelas degenerativas, infelizmente, não tem cura. Mas o neurologista e profissionais de saúde, como fisios, fonos, TOs, neuropsicólogos, podemos ajudar os pacientes e famílias.
- Inibidores de colinesterase. Exemplos são a donepezila, a rivastigmina e a galantamina. Podem retardar o avançar dos sintomas em algumas demências degenerativas, e melhorar sintomas.
- Memantina. Outra classe de remédios que tem efeitos parecidos com os inibidores de colinesterase.
- Medicações para agitação, sono e confusão mental. Os mais comuns são os neurolépticos, como risperidona, quetiapina, olanzapina, entre outros. Ajudam o paciente a ficar mais calmo, e ajuda os cuidadores a conseguir cuidar melhor dos pacientes. Podem ser usados também indutores de sono.
- Terapias. Fisio, fono, TO, reabilitação cognitiva, são alguns exemplos.
Conclusão
A demência é uma condição complexa, mas o conhecimento e a ação precoce podem fazer toda a diferença. Não hesite em buscar ajuda médica ao notar sinais de alerta. Agende uma consulta com um neurologista para discutir suas preocupações e explorar opções de cuidado e suporte.
Referências
– Organização Mundial da Saúde. (2021). Dementia. Recuperado de https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia (https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/dementia)
– Alzheimer’s Association. (2022). 2022 Alzheimer’s Disease Facts and Figures. Alzheimer’s & Dementia, 18(4), 700-789. doi:10.1002/alz.12638
– Petersen, R. C., et al. (2019). Mild Cognitive Impairment: Clinical Characterization and Outcome. Archives of Neurology, 56(3), 303-308. doi:10.1001/archneur.56.3.303
– Jansen, W. J., et al. (2019). Prevalence of Cerebral Amyloid Pathology in Individuals Without Dementia: A Meta-Analysis. Alzheimer’s & Dementia, 15(1), 134-140. doi:10.1016/j.jalz.2018.07.001
– American Heart Association. (2020). Life’s Simple 7: How to Improve Your Heart Health. Recuperado de https://www.heart.org/en/healthy-living/healthy-lifestyle (https://www.heart.org/en/healthy-living/healthy-lifestyle)